domingo, 20 de novembro de 2011

Stasi e antiga prisão de Cottbus

No dia 7 de Novembro visitei, com a turma A.S.G, a antiga prisão de Cottbus. É um edifício abandonado mas com uma enorme história para contar. Foi construído no séc XIX para servir de prisão desta região da Alemanha. Nesta altura, Cottbus era uma cidade rica e em desenvolvimento, tinha uma forte indústria têxtil e uma vida social que evoluía de dia para dia. Mas esta cidade, como quase todas as cidades alemãs, passou por muito durante o último século. A prisão foi-se adaptando a estas mudanças e foi respondendo a regimes a a programas que se iam alterando, 1ª guerra mundial, 2ª guerra mundial e divisão da Alemanha com controlo por parte da RDA. Talvez este último acontecimento seja o mais relevante e o mais perturbador na história da cidade e da prisão. Durante a guerra fria, a RDA desenvolveu uma paranóia de controlo da sua população, queriam saber tudo. O medo da perseguição dos regimes capitalistas e de outras formas de pensar por parte dos seus habitantes, levou o regime "socialista" a criar, logo desde o princípio, uma polícia secreta de defesa do estado que contava com mais 90000 empregados oficiais antes da queda do muro, mais do dobro dos elementos da polícia secreta durante o regime Nazi. Quem pensasse ou agisse de forma suspeita era vigiado, questionado e muitas vezes enviado para a prisão.

Durante esta altura, mais de 60% da ocupação da prisão de Cottbus era representada por presos políticos, homens e mulheres considerados "perigosos" que o Partido tentava esconder. Passaram-se os anos, o muro caiu, e a prisão continuou em actividade até 2003. Só nesse ano foi fechada devido à construção da nova (e fantástica) prisão de Cottbus. O mais interessante aconteceu a seguir, neste Verão a prisão foi comprada pelos antigos presos políticos, é um caso único no mundo. Estas pessoas que muito sofreram nesta altura criaram uma associação que pretende reconstruir a prisão detalhadamente e mostrar ao mundo o que lá se passou, uma espécie de memorial, museu e sítio de educação política.

Apesar das óptimas intenções de estas pessoas, é muito claro que não estão a agir da maneira certa. O lado emocional envolvido no projecto é enorme. Há coisas a acontecer como "reconstruir a prisão da era da RDA detalhadamente para manter a autenticidade" ou "apagar os outros traços de ocupação porque não interessam para a história". Se este projecto for para frente desta forma, cria-se um edifício típico onde existe um museu sem gente e desinteressante, porque Cottbus não tem visitantes nem habitantes. É neste contexto que vamos trabalhar. Este primeiro workshop faz-nos pensar numa forma diferente de olhar para este espaço, porque estamos de fora. Ficámos fascinados com o edifício, os traços são muitos e o espaço é, de repente, uma ruína contemporânea.























Este aspecto de ruína é interessante. Os diferentes traços de ocupação estão à vista de todos e mostram-nos a história e autenticidade da prisão. Apresentámos as primeiras impressões. Como lidar com o espaço, com o antigo muro, com os pátios? Que programa incluir? Como desenhar um memorial para este espaço? Veio-me à cabeça o projecto do MUDE, em Lisboa. A instalação provisória do museu lida com as mesma linguagem e tira partido de uma estrutura de betão à vista. Usa a imaterialidade da luz para acentuar a "ruína" e mostrar as peças da colecção.



















Fizémos alguns exercícios para percebermos o sítio e a forma como queremos trabalhar. Até tivemos uma espécie de brainstorming com os professores para disparar ideias! Percebemos que é preciso fazer muito mais que um simples memorial, a área é enorme e é possível contruir algo novo para a cidade, que precisa de qualquer coisa urgentemente. COTTBUS depende da universidade e já perdeu 1/3 da população desde a reunificação. Começámos agora a trabalhar em grupos para aprofundar 4 temas, ou 4 exercícios: programa; plano urbano geral; possíveis cenários urbanos; caminhos no edifício. Escolhi a hipótese dos "possíveis cenários urbanos". A ideia é criar 30 imagens que são ícones de cenários hipótese para o que pode acontecer ao edifício. Decidimos largar um bocado a história e o peso da memória e brincar com a utopia de situações, umas mais possíveis que outras. Fizemos um jogo que basicamente decide como criar as imagens que representam cenários. Por exemplo, escolho 5 letras aleatoriamente que no fim são características do futuro edifício (púbico ou privado; programa; duração da intervenção, etc.). Mostro agora as 5 primeiras "utopias" que pensei para o edifício, são mesmo hipóteses impossíveis mas divertidas, que nos deixam pensar no espaço de uma outra forma.












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